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Estudos


Cultos Contemporâneos ou Alternativos

Cultos Contemporâneos ou Alternativos

A Liturgia Luterana Hoje
Prof. Rev. Raul Blum

Introdução

Os luteranos estão classificados como uma “igreja litúrgica”, juntamente com os católicos e anglicanos, pois têm e mantêm algumas liturgias que estão impressas nos seus hinários.

O nosso propósito hoje é reflectir sobre a nossa herança litúrgica, as nossas necessidades frente a um mundo chamado pós-moderno, e compartilhar como estão sendo preparados  os nossos teólogos para usarem e/ou criarem liturgias que venham a transmitir com eficácia a palavra de Deus no mundo “pós-moderno” e que proporcionem momentos de comunhão com Deus e com os irmãos.

A – Como chegamos até aqui

Jesus: Participava regularmente da sinagoga aos sábados (Lucas 4.16ss). Assegurou: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mateus 18.20). Na noite da quinta-feira da semana da Paixão instituiu a Santa Ceia, estabeleceu com o seu sangue a “nova aliança” e ordenou: “fazei isto em memória de mim” (Lucas 22.19).

A Igreja: Nascida no Pentecostes, reunia-se regularmente para ouvir a palavra e participar da Santa Ceia (Actos 2.42ss) e não se esquecia da prática do amor (1 Coríntios 16.1-4) aos irmãos em necessidade. Estimulou a participação constante no culto (Hebreus 10.25) e cedo percebeu a necessidade de ordem para uma boa condução do culto (1 Coríntios 14.26ss).

Desenvolvimento da liturgia histórica: Desde aos primeiros séculos do cristianismo e durante a Idade Média, desenvolveu-se uma liturgia na igreja que veio até à Reforma. Lutero conserva seu esquema e conteúdo em tudo aquilo que pode ser considerado evangélico. A Formula Missae mantém a língua latina e é para aqueles que podem entendê-la; a Deutsche Messe é especialmente para os leigos simples. Juntamente com esta liturgia histórica a Reforma inclui em sua herança as Horas de Oração, das quais se destacam no meio luterano até hoje as Matinas e Vésperas. Talvez não se deva esquecer que Lutero também pensou numa ordem verdadeiramente evangélica sugerindo a criação de grupos que se reuniriam em casas.

Pietismo: enfatiza a piedade pessoal, despreza o uso das artes no culto e esvazia bastante o conteúdo da liturgia histórica. Por enfatizar a sinceridade da fé, o pietismo desencadeou uma desconfiança para com ritos externos que são observados com o propósito de executá-los. Por isso, o pietismo enfatizou a oração espontânea, hinos com conteúdo mais emocional em lugar dos hinos tradicionais doutrinários. [1]

Segunda metade do século XX: A liturgia histórica é retomada e gradativamente implantada na LCMS (Lutheran Church - Missouri Synod e na IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil). A liturgia histórica é retomada e gradativamente implantada na LCMS. Em 1941 surge o Lutheran Hymnal. Em 1982 o Lutheran Worship (3 ordens de Culto Principal). Em 2007 é editado o Lutheran Service Book (5 ordens para o Culto Principal). Na IELB, em 1920 é editado Hymnos e Orações (uma Ordem de Culto, sem S. Ceia). Em 1938 surge o Hinário Luterano (Uma ordem de Culto Principal com apêndice p/ celebração da S. Ceia). No final de 1938 e em 1949 o Hinário Luterano recebe ampliações. Em 1986 surge o hinário que temos até hoje (Duas Ordens de Culto Principal com S. Ceia, Matinas e Vésperas). O mesmo é usado pela IELP desde então.

O que se percebe actualmente, é uma busca incessante por novas ordens de culto com a finalidade de tentar atrair o povo para momentos agradáveis e mais descontraídos. É uma tentativa de não cair na rotina de repetições que pudessem levar o povo a seguir uma ordem já conhecida e, por isso, tediosa e mecânica.


B – Reflexões sobre o culto contemporâneo/alternativo

(Cf. Comissão de Culto da The Lutheran Church – Missouri Synod - 1996)

1 – Introdução

Em Apocalipse 5 o apóstolo João relata-nos uma maravilhosa visão na qual uma multidão está reunida ao redor do trono de Deus. Em cântico de júbilo eles proclamam a obra da salvação efectuada pelo Cordeiro de Deus – nosso Senhor Jesus Cristo – e elevam as suas vozes em agradecimento a Ele que os fez um “reino e sacerdotes” para servir seu Deus (Apocalipse 5.10).

No culto estamos na sala do trono do Deus triúno para receber os seus dons e responder com sua graça. As Nossas vozes são juntas à hoste celestial quando reconhecemos o nosso Salvador e Senhor: “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5.13).

Em anos recentes surgiu um debate significativo em nosso Sínodo a respeito da nossa maneira de culto. Em parte vindo de um desejo de comunicar o Evangelho mais efectivamente tanto a membros quanto a não membros, um número de congregações têm alterado as ordens de culto que estão nos nossos hinários. Para alguns esta incursão no que é comumente chamado de “culto contemporâneo” acarreta necessariamente substituir com novos materiais várias partes da liturgia. Para outros estes ofícios vão muito além de alterar padrões de culto existentes; de preferência, eles escolheram planear ofícios que claramente afastam-se do padrão histórico de culto legado às sucessivas gerações de cristãos por quase 2.000 anos.

Um tópico tão crucial quanto o culto exige cuidadosa reflexão, pois o culto da igreja é o lugar onde Deus mesmo distribui a sua palavra e os seus sacramentos que nos dão vida. Certamente a igreja tem uma grande responsabilidade em agir com fidelidade em seu culto como o momento em que Deus confere os seus dons de perdão, vida e salvação ao seu povo.


2 – Culto e liturgia: Algumas definições

O cristianismo é centralizado na salvação. Este é o testemunho bíblico claro, que Deus em Cristo veio para salvar os pecadores (1 Timóteo 1.15). Certamente o culto da igreja pode ser caracterizado da mesma maneira. Ele também é centralizado na salvação, pois o povo de Deus reúne-se para ouvir a palavra da vida e para comer e beber a santa ceia do corpo e sangue de Cristo. Por conseguinte, o culto poderia ser descrito como um intercâmbio entre o Deus que salva e os pecadores que necessitam de salvação.

Sem a graciosa intervenção de Deus, no entanto, seríamos incapazes mesmo de receber os seus dons ou de proferir qualquer louvor sobre a sua bondade e misericórdia. Como o salmista coloca sucintamente: “Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores” (51.15). Qualquer definição de culto, portanto, precisa ir além da perspectiva unilateral que o define essencialmente como algo que nós fazemos, como um acto de reverência oferecido a um ser superior. Culto é, antes de tudo, Deus vindo a nós com seus dons de perdão, vida e salvação. A fé recebe estes dons com agradecimento e louva e exalta o Doador pela sua graciosa bondade.

Na liturgia os dons de Deus são distribuídos ao seu povo. Como a palavra e os sacramentos de Deus não existem num vácuo, a liturgia serve para providenciar uma estrutura através da qual estes dons são entregues à congregação. Desde tempos antigos, esta estrutura exibia dois padrões básicos: uma para oração diária especialmente da manhã e do anoitecer e o outro para a celebração semanal da Santa Ceia. Durante séculos de cuidadoso desenvolvimento, vários textos bíblicos tornaram-se componentes constantes destas liturgias históricas. Em geral estes textos focam a atenção no plano da salvação de Deus, na pessoa e obra de Cristo, e na essência e bênção da Ceia do Senhor.

A liturgia, conforme foi legada através dos séculos, é uma estrutura viva e comunicativa. Ela inclui textos padrões (ex. Kyrie, Credo, Sanctus, Agnus Dei, responsos comuns, etc.) que são colocados dentro de uma estrutura que provê ampla oportunidade para variação (baseada no tema do dia conforme providenciado no lecionário). Longe de ser um invólucro justo, a liturgia provê uniformidade dentro do ofício mesmo quando ela permite criatividade.

Em anos recentes, frases como “culto contemporâneo” e “culto alternativo” tornaram-se designações populares para liturgias que divergem do modelo histórico. Admitindo o facto de que não há definição comum para estas frases, culto contemporâneo/alternativo tornou-se muitas coisas. Para alguns, permitir que a riqueza da liturgia floresça é o que se quer dizer por contemporâneo. Outros iniciam com a liturgia histórica e então fazem alterações na estrutura básica, adicionando materiais em alguns lugares e removendo-os de outros. Para outros, ainda, culto contemporâneo/alternativo veio a significar algo completamente diferente da liturgia histórica da igreja. Enquanto algum padrão demasiadamente similar à liturgia histórica possa ser reconhecido ele é substituído com novo material.


3 – Alcançando os descrentes

Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou à sua igreja a ir a todo mundo e fazer discípulos pelo baptismo e ensinando a todos o que ele lhes ordenou (Mateus 28.19-20). Iniciando com a história conforme é contada no livro de Actos e continuando até o presente dia, a história da igreja é a realização da Grande Comissão de nosso Senhor.

Que há um interesse renovado em anos recentes em alcançar os descrentes é um facto e agradecemos a Deus por isso. Há bilhões de pessoas que não conhecem Cristo, o que significa que eles não têm uma participação na vida que Cristo conseguiu para eles. Sem fé em Cristo eles estarão perdidos para sempre. Esta triste realidade deve afligir-nos certamente com a mesma compaixão que Jesus teve quando ele olhou sobre as multidões que eram como ovelhas sem pastor (Mateus 9.36).

Não é de grande auxílio perguntar se o culto da congregação é para cristãos confessos ou para descrentes. Visto que o ofício é o lugar onde Deus vem através de palavra e sacramento para conceder vida a seu povo, é obviamente benéfico para ambos. Para aqueles que não têm fé, o ofício será, em certo sentido, incompreensível, uma vez que as coisas do Espírito de Deus são somente recebidas por aqueles que possuem o Espírito (1 Coríntios 2.14). Contudo, a leitura, o canto e a pregação da palavra de Deus são meios evidentes pelos quais os descrentes podem ser edificados (Isaías 55.10-11). Além disso, o ofício demonstra que Deus está em nosso meio, e pode, portanto, conduzir os descrentes à instrução posterior, ao Santo Baptismo e, finalmente, à admissão à Santa Ceia (1 Coríntios 14.24-25).

Num esforço de alcançar os descrentes, alguns têm identificado o culto como o lugar primordial para evangelizar. Reconhecendo que os descrentes têm pouca ou nenhuma familiaridade com a nossa herança litúrgica ou hinológica e algumas congregações decidiram simplificar o ofício removendo vários segmentos, eliminando hinos que não são conhecidos fora do luteranismo, e introduzido canções escritas em outros estilos (ex.: pop, rock, country, jazz, blues, etc.). O propósito desta tentativa de aproximação é achar um ponto de acesso através do qual os descrentes possam entrar na igreja.

Esta tentativa de aproximação persiste numa pressuposição, a saber, que os descrentes não acham a liturgia e os hinos tradicionais meios eficazes de comunicação do evangelho. Nem todos, no entanto, vão manter tal opinião. De facto, há muitos descrentes que vão preferir assistir a um ofício que melhor podemos descrever como “tradicional”. Além disso, o profundo anseio da nossa sociedade por uma espiritualidade que vá além do aqui e agora é precisamente o que a liturgia histórica pretende sustentar enquanto ela nos reúne ao culto de toda a igreja, incluindo os santos no céu.


4 – A liturgia é uma instrutora da fé

Mudanças na liturgia da igreja têm sido feitas sempre com cuidado e, por isso, devagar. Um factor que tem contribuído para esta cautela é o papel da liturgia como instrutora da fé. A tecnologia moderna tem tornado relativamente fácil substituir a liturgia histórica da igreja por outras formas, e isto levanta algumas questões importantes. A principal entre elas é a questão por que a liturgia foi mantida pela igreja por séculos. Permaneceu uma estrutura básica – com textos fundamentais – que sobreviveram a uma após outra reforma. O que explica a preservação desta liturgia?

Durante os séculos a igreja tem reconhecido o papel vital que o seu culto desempenha na formação da fé nas vidas do povo de Deus. Através de repetição semanal de textos básicos da Escritura centrados no evangelho, o povo de Deus é instruído nos ensinos fundamentais da fé cristã. A liturgia e os hinos servem como blocos construtores para toda uma vida de recebimento dos dons de Deus através da palavra e sacramento.

Junta-se a este conceito de liturgia como instrutora da fé a disciplina do lecionário. Cada ano a igreja entra na história de Cristo e o seu trabalho de salvação, iniciando com a sua vinda (Advento) e indo em direcção da sua ascensão e envio do Espírito Santo (Pentecostes). Aqui novamente o adorador é instruído nos fundamentos da fé pela ligação à vida e obra de Jesus.

Uma das bênçãos importantes da herança litúrgica é a repetição. Pela repetição de verdades básicas e importantes, os cristãos aprendem de memória (de cor, de coração). Com o coração cremos e com a boca confessamos (Romanos 10.9). A fé cristã é de tal maneira estabelecida no adorador que ela provê o fundamento no qual a pessoa pode confiar por toda a vida. Quando, por outro lado, a repetição de textos é abandonada em favor de novos materiais a cada semana, a oportunidade para imprimir verdades inalteráveis nos corações e mentes do povo de Deus, especialmente crianças, é seriamente comprometida.

O benefício que é obtido através da repetição de textos cruciais é o desenvolvimento de uma linguagem comum. Em cada comunidade e profissão há um vocabulário singular ou um procedimento padrão que permite que o trabalho seja feito tão eficientemente quanto possível. Este vocabulário é indispensável para um bom desempenho da profissão. A igreja, igualmente, tem linguagem comum que fala de pecado e graça, arrependimento, perdão, reconciliação, justiça, etc. Estas expressões de fé são ensinadas no sermão e classe bíblica, certamente. Mas esta linguagem comum também é partilhada quando a liturgia e os hinos são cantados semana após semana. Juntamente com o Catecismo Menor, eles desenvolvem dentro da igreja um caminho comum de falar que nos equipa a sermos testemunhas fiéis quando confessamos as verdades salvadoras diante deste mundo cada vez mais confuso e obscurecido.

Uma das razões muitas vezes apresentada para simplificar ou descartar a liturgia é a preocupação de que a liturgia e hinódia da igreja contêm elementos e conceitos que não são compreensíveis, tanto para os descrentes quanto para o membro comum da igreja. Obviamente, a igreja não quer promover uma ordem litúrgica que perturbe ou confunda o povo. Isto não significa, no entanto, que tudo o que se faça na igreja tenha que ser feito para o denominador comum mais baixo. O carácter da liturgia é que enquanto ela fala a mensagem clara do evangelho, ela também continuamente convida-nos à reflexão e devoção posterior.

Como exemplo deste princípio, considere-se a Oração do Senhor. Nenhum de nós pode contar quantas vezes já fez esta oração. Já a oramos quando crianças quando seu significado era relativamente obscuro para nós. Mas isto significa que não devemos ensinar esta oração, ou outros textos, às crianças? Ou que uma vez que tenhamos dominado o seu conteúdo não mais necessitamos de orá-la? Dificilmente. Em vez disso, aprendemos a Oração do Senhor, O Credo Apostólico e o Niceno e outros textos fundamentais de tal maneira que possamos despender o resto das nossas vidas crescendo neles. Somente após estes textos tenham se tornado parte de nós, podemos ser livres para apreciar a plenitude da sua mensagem.


5 – Somos membros de “uma” igreja

Em sua carta aos Efésios, Paulo regozija-se na verdade de que a igreja é única: “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Efésios 4.4-6). Embora Paulo esteja a falar das diversas vocações dentro da igreja, o propósito não é enfatizar a diversidade, mas ver como Deus usa os vários dons para fortalecer a unidade da igreja: “... para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé” (Efésios 4.12b-13a).

Esta ênfase bíblica na unidade e ordem da igreja (veja também Romanos 12.5; 1 Coríntios 12.12-26; 14.40) precisa ser relembrada quando uma congregação considera em acrescentar um ofício contemporâneo/alternativo em sua programação. Muitas vezes, congregações são aconselhadas a oferecerem diferentes “estilos” de culto para atrair maior número de pessoas da nossa cultura não religiosa. O resultado, no entanto, não é necessariamente uma melhoria; isto pode sugerir a impressão de que a igreja é feita de indivíduos que se segregam a si mesmos na base dos seus gostos e desgostos. Como isto manifesta a unidade da igreja?


6 – O culto da igreja é tanto contra-cultural quanto transcultural

Desde que a igreja existe no mundo ela tem-se esforçado a viver de acordo com a ordem de Jesus, de estar “no, mas não ser do” mundo (João 17.11-18). Certamente esta tensão é sentida intensamente hoje em dia quando a igreja vê-se num mundo que é cada vez menos hospitaleiro ao cristianismo. De cada ângulo somos bombardeados com mensagens que  seduzem-nos a gostar dos prazeres desta vida e a lutar por sucesso mundano. Além disso, o mundo pós-moderno favorece a reivindicação individual de que cada um tem o direito à sua própria versão da verdade. Em tal clima, a reivindicação exclusiva da igreja de que a salvação vem somente através da fé em Jesus Cristo (Actos 4.12) é mal-vista e prontamente rejeitada por muitos. A visão pós-moderna do indivíduo não é querer ser guiado pela vontade de Deus, mas é o sentimento individual de alguém, suas necessidades e desejos que muitas vezes são o factor determinante para toda a sua vida.

Cada vez mais, a nossa sociedade vem sendo definida pelos perigos da passividade e isolamento. Enquanto inventos como a televisão e computador resultaram em avanços tremendos, eles também nos deram oportunidade de nos retirarmos da sociedade ao redor de nós. Estamos a perder rapidamente a habilidade de interagir uns com os outros em qualquer sentido significativo. Certamente esta tendência propõe um desafio à natureza corporativa da igreja, a saber, que ela é definida não como uma colecção de indivíduos, mas como o corpo dos crentes (1 Coríntios 12.12-27; Efésios 2.19-22; 4. 4-6).

Finalmente, o nosso mundo vive para gratificações iminentes. Primeiro o telefone, e agora fax e internet permitem-nos comunicações iminentes. Estabelecimentos de fast-food, telemóveis – todos estes dão-nos a sensação de que o mundo ao redor de nós está pronto para servir-nos. Além disso, há a tentação de esperar que tudo seja relevante para o aqui e agora. Se não for, então sua utilidade entra em séria questão.

Em resposta às pressões do mundo, o culto da igreja muitas vezes terá a tarefa de ser oposição à cultura. Ele é, de facto, contra-cultural. Em resposta ao relativismo crescente da nossa época, por exemplo, precisamos ser resolutos em nosso culto para proclamar todo o conselho de Deus, tanto o seu julgamento terrível dos pecadores quanto o seu perdão confortador por causa de Cristo. Embora o mundo queira sempre persuadir a igreja a abrandar a sua mensagem profética, nós permanecemos determinados em proclamar a verdade, completamente cônscios de que o evangelho – na verdade, Cristo mesmo – é uma pedra de tropeço (Mateus 21.42; 1 Coríntios 1.18-25). Certamente, enquanto a mensagem da cruz será uma ofensa a alguns, isto jamais significa que preparamos ou dirigimos intencionalmente o nosso culto de tal maneira que ele afaste as pessoas. Mas temos que deixar claro a nossa condição de pecadores e a nossa necessidade de um Deus gracioso; e este enfoque a liturgia histórica apresenta claramente.

A igreja precisa prevenir-se para não promover a tendência à passividade em seus cultos. Alguns tipos de culto tratam a igreja como uma audiência: o povo reúne-se para assistir a uma representação. No entanto, o culto da igreja é a reunião dos santos de Deus ao redor dos seus dons para que eles possam recebê-los e ter vida. Certamente é diferente de qualquer outra coisa no mundo inteiro. O povo reúne-se para celebrar o céu na terra. Por isso o culto da igreja exibirá uma diversidade de emoções humanas enquanto os dons de Deus são recebidos. Alegria e entusiasmo serão tão evidentes como solenidade. Nenhuma emoção, no entanto, existe para si mesma, mas é a resposta da fé aos benefícios dos dons de Deus.

Estes aspectos contra-culturais do culto da igreja são balanceados pelo facto de que a liturgia da igreja também serve positivamente como uma força transcultural. O carácter da liturgia da igreja é que não é o produto de um tempo ou lugar, mas, mais exactamente, a verdadeira sabedoria da igreja para cada tempo e lugar. Através dos séculos a liturgia apropriou-se do melhor de cada comunidade de fé. Neste processo ela tem servido como uma força unificadora dentro da igreja, permitindo aos cristãos de todas as terras e raças unir-se com uma voz ao louvor do seu Criador e Redentor.

A apropriação da liturgia do melhor dos dons de Deus de cada época está a acontecer também agora. Ela é inerentemente um processo lento enquanto novos hinos e liturgias são examinados minuciosamente para ver se elas permanecerão diante do teste do tempo. Certamente nem tudo o que é escrito para o culto em nossos dias será cantado no futuro. Mas certamente permanecerão aqueles dons especiais de Deus que proclamam o evangelho para as gerações que vêm.

Mesmo quando o culto da igreja recorre ao melhor de cada comunidade cristã, ela não o faz indiscriminadamente. Nem toda a forma de expressão é compatível com o evangelho. Certos estilos de música, por exemplo, são menos apropriados que outros para o culto do povo de Deus. Por esta razão, é essencial que a música sirva apropriadamente ao texto e não a sobrepuje com outras mensagens.


7 – O culto requer preparação e recursos adequados

A eficácia do culto da igreja não depende essencialmente da qualidade da sua execução; todavia, a igreja quer conduzir o culto de uma maneira que se dê o melhor para Deus. Isto requer preparação adequada e deliberada. Os pastores necessitam gastar o tempo não somente a preparar os seus sermões, mas também dando atenção a todos os detalhes do ofício. Congregações precisam encorajar os seus músicos a preparar-se para cada ofício e procurar aperfeiçoar as suas habilidades. Infelizmente, em muitas das nossas congregações não foi dado ao culto uma alta prioridade. Temos falhado em explicar ao nosso povo o significado e o que fazemos no culto. Pastores não têm visto o planeamento do culto como uma tarefa importante. Muitas congregações têm remunerado inadequadamente os seus músicos e tem falhado em encorajá-los a procurar oportunidades de aperfeiçoarem as suas habilidades. Muitas igrejas nunca providenciaram instrumentos adequados para os seus músicos.

Estes comentários não significam que cada congregação deva ter um programa de música profissional com músicos altamente treinados. Em muitos casos, as nossas congregações vão confiar no espírito generoso de músicos dedicados cujas compensações serão um pouco mais que um pequeno gesto de agradecimento e um encorajamento de procurar seguir treinando. A meta não é alta qualidade para seu próprio benefício, mas simplesmente um oferecimento do nosso melhor assim que o culto do povo de Deus seja enriquecido enquanto eles recebem os dons de Deus com agradecimento.


Conclusões

Liturgia e hinos que, devido ao seu uso constante, foram decorados pelo povo de Deus servem como base de doutrina e expressão de fé para toda a vida. Constante variedade pode ser um empecilho a uma boa instrução da congregação.

As partes variáveis da liturgia, os chamados “Próprios do Dia” (leituras bíblicas, hinos, orações, canto do coro) garantem variedade para cada culto, mesmo sendo usada a mesma ordem de culto constantemente. Novos hinos podem ser inseridos no culto, estimulando a criatividade local, que podem ser usados também dentro da liturgia histórica.

O chamado “culto contemporâneo” pode ter seu espaço dentro das nossas congregações. Variedade de liturgias e liturgias especiais para um só momento não precisam comprometer a unidade da igreja. Para tanto, alguns princípios básicos precisam ser observados:


1. Nossa própria história como Igreja Luterana ensina-nos que jamais poderemos esquecer a nossa herança litúrgica que é a mesma da igreja "universal". A liturgia histórica enfatiza a universalidade da igreja. Portanto, este conteúdo litúrgico histórico não pode ser desprezado.

2. Alterações na linguagem e na música, com o fim de trazer a mensagem inalterada de forma que ela seja mais bem assimilada em nossos dias, certamente são bem-vindas.

3. Utilizar os próprios do Dia (Intróito, Gradual, Salmos – conforme o lecionário) e, se possível, com música, para que possam ser cantados pelos nossos coros, solistas e congregações. Isto pode significar o aproveitamento de diversos instrumentos, além do órgão. Utilizar o lecionário garante diversidade (para cada domingo ou época temos textos diferentes), ensino “completo” da Bíblia (o lecionário abrange uma visão “completa” da Bíblia) e unidade com a igreja (por todo o mundo o lecionário é utilizado).

4. A clareza da mensagem pura da palavra de Deus é o que precisa prevalecer em toda forma de culto. Instrumentos ou arranjos musicais não podem “esconder” nem “sufocar” a mensagem de tal maneira que se tenha dificuldade em ouvi-la ou cantá-la.

5. Precisamos insistir na necessidade das nossas congregações investirem em bons instrumentos e bons músicos. Um bom culto, alegre e dinâmico tem em sua base pessoas preparadas musicalmente, que sabem como conduzir instrumentos, vozes e congregações a um louvor dinâmico.

6. Qualquer liturgia precisa apontar para Cristo. Cristo serve-nos no culto e ele nos move a servi-lo.

7. No culto, todos são participantes da mensagem que motiva o povo de Deus a servi-lo. Portanto, o culto não é um show de apresentações, mas um conjunto de participações. Isto não quer dizer que solos, corais e bandas não possam cantar para que o povo apenas ouça. Mas, mesmo nesses momentos, a mensagem deve apontar para Cristo, precisa ser entendida, e a música e os músicos não devem atrair o foco para si mesmo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
COMISSION ON WORSHIP. Reflections on Contemporary/Alternative Worship. St. Louis: The Lutheran Misouri Synod, 1996.
HILDEBRAND, Kevin. Responding to the Call for Variety in the Church’s Liturgy in Through the Chruch the Song Goes On: preparing a Lutheran Hymnal for the 21st Century (p.147-154). St. Louis: The Lutheran Church – Missouri Synod, 1999.
SENN, Frank C. Christian Liturgy: Catholic and Evangelical. Minneapolis: Augsburg Fortress, 1997.

Raul Blum. Palestra para o encontro de pastores no Seminário Concórdia. São Leopoldo, 20 de março de 2007. 

[1] SENN, Fran C. Christian Liturgy, p. 498.


Autor: P. Raul Blum. Palestra para o encontro de pastores no Seminário Concórdia.


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O Plano de Deus para a oferta do Cristão de acordo com Malaquias

O presente estudo foi compartilhado no dia 05 de Fevereiro na Paróquia Consolação das Mercês. A intenção foi e é, mostrar que Deus tem um plano pra cada um de nós quando falamos em ofertas.

- Ml 1.2: Deus diz: “Eu sempre amei vocês”. Temos um Pai que nos ama e por isso nos ensina a sua vontade, também sobre as ofertas.

- Ml 2.7:Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do SENHOR dos Exércitos.” A oferta cristã também precisa ser aprendida. Quem ensina é o pastor, com o ensino bíblico e o seu próprio exemplo.

- Ml 1.6: “O filho honra o pai, e o servo o seu senhor; se eu sou pai, onde está a minha honra?” Nos vv. 6-11 Deus acusa o seu povo de não honrá-lo nas ofertas, pois traziam a Deus animais cegos, doentes e defeituosos, ofertavam qualquer coisa - refugo, sobra – coisa que não teriam coragem de oferecer a uma autoridade, por exemplo.

- Deus acusa os sacerdotes (pastores): ou não tinham ensinado ao povo o que Deus tinha ordenado ou concordavam com as atitudes erradas do povo.

- E nós, hoje? Se o povo de Deus não sabe ofertar conforme o plano de Deus, os primeiros responsáveis são os pastores. Mas se o pastor ensina e o povo ainda não oferta como Deus quer, de quem é a responsabilidade?

- Ml 1.9:Agora, pois, eu suplico, peça a Deus, que ele seja misericordioso connosco; isto veio das vossas mãos; aceitará ele a vossa pessoa? diz o SENHOR dos Exércitos.” Pelo tipo de oferta Deus conhece o coração da pessoa, a sua intenção e a sua fé.

- Ml 3.8,9:Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação.” O desleixo na oferta levou à desonestidade do povo nas ofertas (...vocês me roubam...) e à maldição de Deus sobre eles.

- Ml 3.10-12:Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos.” Aqui Deus  mostra-nos as três finalidades da oferta do cristão:

1. Para honrar a Deus como Senhor (1.6 e Pv 3.9);
2. Para haver recursos para o Reino de Deus (3.10);
3. Para tornar o cristão uma pessoa feliz (3.12).

- Ml 3.10,11: Deus convida-nos a confiar totalmente nele e promete muitas bênçãos aos mordomos fiéis, bênçãos que não podem ser medidas por medidas humanas, pois a nossa felicidade depende de Deus. Ele já nos deu a sua maior oferta – seu Filho Jesus – e com certeza  dar-nos-á todas as outras coisas (Mt 6.25-34; Rm 8.31-34).
Conclusão
1. o motivo para ofertar: a oferta de Deus a nós – seu Filho Jesus que morreu por nós.
2. Conseqüência da desonestidade e relaxamento na oferta: desonra a Deus e por isso, rejeição e maldição de Deus;
3. Conseqüência da fidelidade e honestidade na oferta: honra a Deus, recursos para a pregação do Evangelho, felicidade no exercício da fé e bênçãos de Deus.

Escolha a sua percentagem, faça o seu voto, seja fiel e confie no SENHOR!

Adap. Rev. Genivaldo Agner